Confissão
Talvez nem haja uma moldura ainda,
nem o porquê de buscar os meus perdidos,
meu esconderijo secreto, meu passadiço,
a clausura impenetrável de mim.
E assim uma vereda seria bem-vinda:
um querer ser quão um obscuro autor antigo
cuja obra infinda vem sem pistas, em revezes,
só a obra, e as lacunas, e teses em vão.
Então, o que procuro sejam os restos talvez,
os rastros, um rosto apagado, ou em perigo,
os gestos, ou um motivo, único que seja,
pro não registro do riso puro, da frágil tez.
De vez, entro por vias sem saída, volto,
me perco, corro, há caída, socorro!
Onde está aquela figura de menino,
o retrato que outrora não se fez?
Confissão é o poema que abre o livro ""Corredores invisíveis"
Corredores invisíveis (em andamento) conclui a trilogia sobre infância iniciada em Ainda em flor e continuada por Baile a fantasia,
em um projeto que acompanha a esteira do pensamento de Giovanni Pascoli sobre o pequeno menino que permanece em nós,
em sua voz de poesia.
Aqui, a trilogia, sob a forma de um romance desconstruído em sua gênese, toma o menino interior como sua musa,
como a memória do estranhamento, do que permanece como um eterno presente, um menino que fala em nós
e nos recupera a experiência primeira.
Junto aos dois volumes anteriores, Corredores invisíveis é a tentativa de ouvir a infante musa,
é uma experiência de criar uma face perdida, a fotografia nunca revelada,
é uma experiência de des-prisão, de retirada de uma imagem do vácuo, da névoa, da memória.